Meus
queridos Irmãos,
Neste
domingo do tempo quotidiano, chamado 18º Domingo do Tempo Comum, celebramos o
início do mês de agosto que é dedicado em ação de graças pelas vocações
cristãs. Queremos, inicialmente, pedir a Deus que abençoe a todos os padres na
comemoração de São João Maria Vianney. Rezamos por todos os presbíteros que
gastam a sua vida em favor do anúncio do Reino de Deus e da santificação do
amado povo de Deus. Assim, hoje junto com a dignidade do trabalho humano, onde
o importante é SER RICO PARA DEUS, tema central de nossa reflexão.
Irmãos
e Irmãs,
A
liturgia de hoje nos lembra que basta uma crise financeira para que os homens e
mulheres se lembrarem da precariedade dos tesouros deste mundo. O Evangelho de
hoje(Cf. Lc 12,13-21) nos fala de atitudes comezinhas na vida familiar: A briga
de irmãos sobre uma herança; querem que Jesus resolva o impasse. Jesus não se
interessa: sua missão é outra. Que adiantaria, para o Reino de Deus, impor a
esses dois irmãos uma solução que, provavelmente, não os reconciliaria? Para Jesus
interessa que a pessoa se converta para os valores do Reino de Deus. Jesus, no
seu modo simples de colocar os tesouros eternos, conta à parábola do rico
insensato, que depois de uma boa safra achou que poderia descansar para o resto
de sua vida e viver daquilo que guardara em toda a sua vida. Coitado, na mesma
noite Deus viria reclamar sua vida… Jesus não quis denunciar o desejo de viver
decentemente, mas a mania de colocar sua esperança nas riquezas e poderes deste
mundo, esquecendo reunir tesouros junto a Deus. As riquezas não são um mal em
si, mas desviam a nossa atenção da verdadeira riqueza, a amizade com Deus, que
alcançamos pela dedicação a seus filhos.
Caros
irmãos
A
Primeira Leitura(cf. Ecl 1,2; 2,21-23) nos interpela com a seguinte pergunta:
Para que a riqueza e o saber? O Antigo Testamento gosta geralmente da vida. O
Livro do Eclesiastes, porém, dedica-se ao ceticismo. Ataca o leitor com
perguntas inoportunas. Que é o homem? Por que existe? Aonde vai? Para que
servem a riqueza e o saber, dificilmente alcançados e tão facilmente perdidos
na hora da morte? É como um vento que passa. Que sobra? Estas perguntas nos
preparam para valorizar o “tesouro junto de Deus” que nos aponta Lucas na missa
de hoje.
A
grande lição que o Eclesiastes nos deixa é a demonstração da incapacidade de o
homem, por si só, encontrar uma saída, um sentido para a sua vida. O pessimismo
do Eclesiastes leva-nos a reconhecer a nossa impotência, o sem sentido de uma
vida voltada apenas para o humano e para o material. Constatando que em si
próprio e apenas por si próprio o homem não pode encontrar o sentido da vida, a
reflexão deste livro força-nos a olhar para o mais além. Para onde? O
Eclesiastes não vai tão longe; mas nós, iluminados pela fé, já podemos
concluir: para Deus. Só em Deus e com Deus seremos capazes de encontrar o
sentido da vida e preencher a nossa existência.
As
conclusões, quer do Eclesiastes seriam desesperantes se não existisse a fé.
Para nós, os crentes, a vida não é absurda porque ela não termina nem se encerra
neste mundo. A nossa caminhada nesta terra está, na verdade, cheia de
limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós sabemos que esta vida
caminha para a sua realização plena, para a vida eterna: só aí encontraremos o
sentido pleno do nosso ser e da nossa existência.
Caros
irmãos,
A
Segunda Leitura(cf. Cl. 3,1-5.9-11) nos apresenta uma nova vida em Cristo. No
final de sua epístola, São Paulo mostra aos colossenses as exigências que
coloca ao cristão a vida nova, que é: morrer e corressuscitar com Cristo. A
comunhão com Cristo não é só para a vida futura; já somos nova criação em
Cristo, embora esteja ainda escondida em Deus, como o próprio Cristo.
Mas
já age, já tem a sua forma definida. Para isso, o velho homem deve morrer, não
por uma mortificação que diminui o homem, mas pela vida nova na comunhão, isto
é que nos garante um tesouro junto a Deus.
Na
perspectiva de São Paulo ser batizado é identificar-se com Cristo e, portanto,
renunciar aos mecanismos que geram egoísmo, ambição, injustiça, orgulho, morte
– os mesmos que Jesus rejeitou como diabólicos; e é, em contrapartida, escolher
uma vida de doação, de entrega, de serviço, de amor – os mecanismos que levaram
Jesus à cruz, mas que também o levaram à ressurreição. O objetivo da nossa vida
é, de acordo com São Paulo, a renovação contínua da nossa vida, a fim de que
nos tornemos “imagem de Deus”.
Queridos
Irmãos,
A
cobiça deve, também, ser considerada nesta liturgia. Junto da cobiça a
ganância. A cobiça é a irmã gêmea da avareza que Santo Antônio chamou de
“comida do diabo”. Tudo isso porque os bens que amealhamos aqui neste mundo são
transitórios e precários. Não se trata de condenar a riqueza em si mesma,
criatura boa de Deus ou da inteligência humana. Trata-se de examinar o
comportamento em sua dimensão horizontal – para o mundo e para a sociedade – e
vertical – para Deus e a eternidade.
Assim
o Evangelho de hoje(cf. Lc. 12,13-21) é atualíssimo. Vivemos uma sociedade
voltada para o bem estar absoluto, para o hedonismo, para uma vida totalmente
sem sofrimento, com a busca desenfreada do ter, do prazer e do consumismo
desvairado. As famílias não querem mais filhos. O que se busca é o prazer pelo
prazer, um consumismo terrível e um bem-estar eterno.
O
Evangelho vai na contra-mão: a felicidade humana não está nem no muito possuir
e nem no prazer de dominar.
A
ganância é precária e os bens deste mundo somente servem se estiverem a serviço
dos irmãos e da edificação de uma vida comunitária. Segundo a lei mosaica para
os camponeses, o filho mais velho, além de herdar a casa e o terreno sozinho,
herdava ainda dois terços dos bens móveis. É provável que a briga estivesse em
torno do terço sobrante. Nesses casos, recorria-se ao doutor da lei, uma
espécie de advogado, teólogo e juiz. Vemos, então, que Jesus era considerado
pelo povo como um advogado, ou como uma pessoa justa. Mas Jesus, evitando tomar
o lugar dos juristas, para que ninguém pudesse acusá-lo de usurpar poderes,
fala da cobiça e da avareza. O episódio de hoje é fascinante: alguém herdara
todos os bens, menos uma pequena parte, que devia ser repartida entre os
irmãos, e negava-se a fazê-lo, porque queria a herança inteira para si. Uma
ganância forte, que não só feria os direitos dos outros, mas também, e,
sobretudo, o amor fraterno, sobre o qual Jesus queria construir o novo povo de
Deus.
Caros
irmãos,
Ninguém
pode decidir no lugar de outro. O próprio Jesus respeita a liberdade do homem,
mas veio propor-lhe balizas para marcar o caminho sobre o qual tem escolhas a
fazer. Põe-no de sobreaviso em relação às riquezas materiais que podem
paralisar ou cegar. De fato, aquele que tem as mãos crispadas sobre os seus bens
está impedido de partilhar, de fazer um gesto para com aquele que tem
necessidade. E depois, o seu horizonte está fechado por todas as suas riquezas
que o impedem de ver o irmão, e de se ver a si próprio na luz de Deus. Quando
nos deixamos olhar por Deus, permitimos-Lhe olhar para onde estão as nossas
verdadeiras riquezas; a oração ajuda-nos, então, a reconhecê-las para as
desenvolver.
Irmãos
e Irmãs,
A
ganância sempre deixa o homem desassossegado. Santo Agostinho disse que a
ganância não respeita nem Deus, nem o homem, não perdoa nem o pai nem o amigo,
não considera nem a viúva e nem o órfão. Em torno de nós está a confirmação.
Para se compreender e viver o Evangelho temos que ser desapegados. Deus
primeiro nos criou. Depois do direito a vida nos deu a liberdade. A vida
pertence a Deus. Ele a dará e ele a tirará. Os grandes mestres da vida, quando
falam da precariedade dos bens, costumam apontar o dedo para o mistério da
morte, que nos quer nus, como nus saímos do ventre de nossa mãe. Mas do que
riquezas neste mundo devemos ser ricos diante de Deus, sempre procurando a
misericórdia e a caridade.
Assim,
para levar a sério à advertência do Evangelho e necessário rever os critérios
de nossas vidas. Precisamos acreditar que nossa vida é diferente daquilo que o
materialismo nos propõe. A Segunda Leitura, retirada da carta aos Colossenses,
nos fornece uma base sólida para tal fé. Co-ressuscitados com Cristo devemos
procurar as coisas do alto: o que é de valor definitivo, junto de Deus. E isso
não está muito longe de nós. Nossa verdadeira vida é Cristo, que está escondido
junto a Deus, na glória que se há de manifestar no dia sem fim.
Vamos,
pois, usar os bens que Deus nos concede com liberdade e liberalidade, colocando
tudo em benefício do próximo, na partilha e na solidariedade. Com os bens
materiais as pessoas podem fazer o bem. Para isso é preciso que elas vivam em
atitude de jejum, numa atitude de respeito e de liberdade diante dos bens, sem
a eles se escravizar e partilhando-os com o próximo.
Irmãos
e Irmãs,
O
que Jesus denuncia aqui não é a riqueza, mas a deificação da riqueza. Até
alguém que fez “voto de pobreza” pode deixar-se tentar pelo apelo dos bens e
colocar neles o seu interesse fundamental. A todos Jesus recomenda: “cuidado
com os falsos deuses; não deixem que o acessório vos distraia do fundamental”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário